Dança em Rede

Tatiana Leskova

  • Categoria: Profissionais da dança
  • País de origem: França
  • Cidade de origem: Paris
  • Atividade: Bailarina
  • Atividade: Coreógrafa
  • Atividade: Maître
  • Atividade: Remontadora
  • Data de nascimento: 06/12/1922

Histórico

Tatiana Leskova nasceu prematuramente em 6 de dezembro de 1922, em Paris, na França. Perdeu a mãe aos 10 anos de idade, vítima de tuberculose. Iniciou seus estudos de balé neste mesmo ano com Lubov Egorova (1880-1972).

Em 1937, ingressa na Opéra Comique de Paris como estagiária, a única possibilidade para menores de idade, apesar de ter se classificado em segundo lugar na audição.

Em 1938, paralelamente ao cargo no Opéra Comique de Paris é convidada a participar do Ballet de la Jeunesse. Tatiana deixa a Opéra e passa a integrar apenas o Ballet de la Jeunesse, que faz turnê pela Europa, e faz o papel-título de La'Amourese et la Bien-Aimée, balé escrito por Jean-Louis Vaudoyer e coreografia de Egorova. Nesse mesmo ano, é convidada a atuar na Comédie Française para fazer o prólogo de uma peça de Moliè re. Ê convidada por Léonide Massine para participar do Ballets Russes de Monte-Carlo, mas seu pai a considerava jovem demais para sair em turnê pelo mundo.

Ê admitida no Original Ballet Russe, em 1939, que pouco depois ganhou o nome de Original Ballet Russe do Colonel de Basil. Sai em turnê para a Austrália com a companhia e só retorna a Paris depois de oito anos, por conta da Segunda Guerra Mundial.

Em 1941, segue turnê pelos Estados Unidos, Canadá, México e Cuba, onde permanece por cinco meses. Nesse tempo em Cuba, 17 bailarinos do grupo (eram 65 ao todo) entram em greve pedindo aumento. Entre inúmeros balés do repertório da companhia dança Le Beau Danube, de Léonide Massine, substituindo a solista, que se machucara. Esse balé se tornou uma de suas melhores interpretações.

Vem pela primeira vez ao Brasil, em 1942, com o Original Ballet Russe como uma de suas artistas principais. Apresenta-se no Rio de Janeiro e em São
Paulo. Durante a temporada em Buenos Aires, na Argentina, onde a companhia permaneceu por longos meses, é convidada por Balanchine para dançar sua nova coreografia Concerto, de Mozart, a ser montada no Teatro
Colón. Mas, por ser menor de idade e o diretor da companhia Original Ballet Russe ser seu tutor, não pode dançar, apesar de já ter iniciado os ensaios com Yurek Shabelewski (1910-1993).

Tatiana fica na Argentina por 10 meses, onde conhece seu grande amor e parceiro, Honold Reis (1909-1986). Em 1944, retorna com a companhia ao Rio de Janeiro depois de extensa turnê pela América do Sul e resolve permanecer no País. Em 1947 vai até a Suíça acompanhar Reis para tratar da tuberculose.

Entre 1948 e 1949, depois de participar dos shows do Cassino Copacabana, volta aos palcos e funda o Ballet Society (que mais pra frente passa a ser a Academia de Ballet Tatiana Leskova). Para o grupo cria seus primeiros balés, Variações Sinfônicas e Mascarade. Em 1950, assume o cargo de coreógrafa e maître-de-ballet do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro durante dois anos.

Apesar dessa descrição, ela atuava como diretora do Corpo de Baile. Em 1952, torna-se cidadã brasileira e é contratada como funcionária do teatro na mesma posição do Corpo de Baile. Permanece nessa função até 1962.
Em 1959, faz operação no tornozelo por conta de uma lesão. Ganha a bolsa Specialist Grant, oferecida pelo adido cultural da embaixada americana.

Durante três meses, em Nova York, frequenta o curso de Martha Graham, também tem aulas com o Ballet Society (futuro New York City Ballet) e com o American Ballet Theater.

Em 1962, pela Lei Municipal 14, passa a ser professora de arte teatral nível universitário no Rio de Janeiro, porque essa lei não permitia que uma pessoa ocupasse o cargo de diretora permanentemente. Em 1964 afasta-se do Theatro Municipal. Dança Giselle, com Aldo Lotufo, no Uruguai. Em Montevidéu, despede-se do palco, aos 43 anos, após uma operação de menisco.

A pedido dos bailarinos, retorna ao Theatro Municipal, em 1966, como convidada e remonta Giselle, Paquita pas de trois na versão Petipa/Balanchine e remonta Os Comediantes.

Convidada por Dalal Achcar, então diretora do Balé do Rio de Janeiro, em 1967, remonta Giselle e Marguerite et Armand, de Frederick Ashton (1904-1988), para Margot Fonteyn (1919-1991) e Rudolf Nureyev (1938-1993). Convida Eugenia Feodorova para montar a versão completa de O Lago dos Cisnes pela primeira vez na América do Sul.

Em 1970, retorna ao Theatro novamente e monta Giselle e Copélia para o Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo, ao convite da regente Helba Nogueira.

Em 1976, volta a assumir o posto estável de coreógrafa e maitrê-de-ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, cargo que ocupa até 1978, afastando-se por um ano. Em 1980 se afasta novamente da companhia.

Viaja aos Estados Unidos, em 1981, onde leciona em Saratoga e em Nova York, no Conservatory of Dance. Em 1982, comemora os 30 anos de atividades da Academia de Ballet Tatiana Leskova. Ê homenageada no Festival Internacional de Dança de Havana, Cuba. Em 1983, novamente é convidada a ministrar um curso nos Estados Unidos, dessa vez em Nova York. Recria o Novo Ballet da Juventude. Preside o júri do Concurso Internacional de Ballet de Trujillo, no Peru, em 1984, e recebe o título de Cidadã Carioca. Dirige o Festival da Primavera, onde atuam como bailarinos convidados Maximiliano Guerra e Julio Bocca. Participam as primeiras-bailarinas brasileiras Ana Botafogo, Áurea Hammerli, Cecília Kerche, entre outras. Retorna ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro como convidada do Corpo de Baile. Em 1985, viaja pela primeira vez a Rússia como convidada de honra do Concurso Internacional de Dança de Moscou.

Em 1986, atua como professora convidada no Tanz Forum, de Colônia, Alemanha. Retorna à Europa como convidada da Royal Academy of Dance, em Londres. Ê condecorada com a comenda de Officier des Arts et des Lettres du Ministere de la Culture et de La Comunication de France.

Assume novamente o posto de coreógrafa e maître de ballet do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio, ocupando o cargo até 1990.

Depois de 50 anos formando profissionais da dança, fecha, em 2002, a Academia de Ballet Tatiana Leskova, aos 80 anos.

Em 2009 a São Paulo Companhia de Dança dedica um documentário da série Figuras da Dança à ela. A direção foi de Inês Bogéa e Sergio Roizenblit. O texto biográfico assinado por Eliana Caminada está disponível para download aqui: http://www.saopaulocompanhiadedanca.art.br/folhetos_figuras_da_danca.php

Em 2012 ela remontou o Grand Pas de Deux de O Quebra Nozes, de Marius Petipa e Lev Ivanov, para a São Paulo Companhia de Dança.

Trabalhos

1939 Em homenagem aos dez anos de morte de Sergei Diaghilev (1872-1929), foi convidada por Serge Lifar (1905-1986) para fazer o papel principal do balé Les Sylphides, de Michel Fokine (1880-1942), ao lado do próprio
Lifar.

1940 David Lichine (1910-1972), então coreógrafo do Original Ballet Russe, cria para Tatiana o papel “Menina das tranças”, no balé Baile de Graduados. A companhia segue para os Estados Unidos.

1941 Estreia um dos papéis principais de Balustrade, de George Balanchine (1904-1983), sob a regência de Igor Stravinsky (1882-1971).

Em 1941 dança Le Beau Danube, de Léonide Massine. Esse balé se tornou uma de suas melhores interpretações.
1943 Durante uma temporada de dez meses na Argentina, com o Original Ballet Russe, Tatiana participa de três peças teatrais, Joana da'Arc, de Charles Peguy, Histoire de Rire e Nous ne Sommes pas Mariés, de S. Salacrou.
1962.Cria Prometeu e Noite de Valpurgis. Monta Bodas de Aurora (3° ato de a Bela Adormecida), Danças Polovtsianas do Príncipe Igor, o segundo ato de O Lago do Cisne, Sonata ao Luar, além de vários trechos de balés célebres. Com a visita do Balé da Ópera de Paris, recebe um presente de Serge Lifar: ele a ensina todo o balé Giselle.

1951/1952 Nesses anos, monta trabalhos de diversos coreógrafos, além de clássicos do repertório da dança: Adágio da Rosa, Batuque, Cisne Negro, Copélia, Dança daFita, Flocos de Neve, Lago dos Cisnes (1° ato), Les Présages, Mefisto Valsa, Mignone-Maracatu do Chico-rei, A Morte do Cisne, Ondine, pas de deux de Danúbio Azul, Passáro Azul, Pião, Quadros de uma Exposição. Monta e dança Giselle, D.Quixote, Les Sylphides, o grand pas de deux de O Quebra-nozes. Faz versões de Luta Eterna, O Papagaio do Moleque e Danças Indígenas, coreografias originais de Vaslav Veltchek (1896-1968). Cria: La Stella del Circo, Salamanca do Jirau.

1953 Além de apresentar as coreografias dos anos anteriores, monta La'Aprè smidi da'um Faune, Mancenilha, O Sonho (do balé Raimonda). Monta e dança Pas de quatre e Protée.

1954 Continua incorporando coreografias ao repertório da companhia. Monta: A Bacanal de Thais, Batuque, Pedro e o Lobo. Monta e dança: pas de trois de Paquita. Criou Os Sete Pecados Capitais e O Espantalho. Além disso,
também era a responsável pelos balés das óperas da casa.

1955/1956 Traz o coreógrafo Léonide Massine para as temporadas da companhia quando foram remontados os balés Capricho Espanhol, Gaité Parisienne, Hino à Beleza, La Boutique Fantasque, Le Beau Danude, Les Présages, O Tricórnio.
Também cria: Foyer de la Danse. Monta: Romeu e Julieta, Scheherezade, Suíte de Esmeralda. Dança: Eterno Triângulo, de Dennis Gray (1924 - 2005).

1957 Monta a ópera-balé Orfeu.

1958 Traz para a temporada de dança as estrelas Alicia Alonso e Igor Youskevitch (1912-1994).

1960 Ê convidada por Massine para trabalhar nas remontagens de Choreartium, do próprio Massine, em Nervi, na Itália, e de Sheherazade, de Fokine. Retorna ao Rio de Janeiro para cumprir a temporada no Theatro Municipal com Harald Lander. Dança o papel principal de Êtudes, de Lander. Cria, com Eugenia Feodorova (1925-2007), a primeira versão de O Descobrimento do Brasil.

1962 Traz para o Brasil o coreógrafo americano William Dollar, que assume a direção coreográfica da Companhia nas duas temporadas oficiais do ano. Estrela o balé O Combate, de Dollar. Nesse ano, ainda trouxe Les
Êtoiles de La'Opéra de Paris para dançar com o elenco do Balé Municipal.

1968/1969 Cria Pelleas et Melisande e remonta Os Comediantes para a Companhia Brasileira de Balé. Viaja para o Chile e depois Uruguai onde remonta Variações Sinfônicas, O Combate, Mascarade, O Galo de Ouro, Grand Pas de Quatre 1845 e pas de trois de Paquita, na versão Petipa/Balanchine.

1970 Retorna ao Theatro Municipal também a pedido do elenco. Monta Giselle e Copélia para o Corpo de Baile do Teatro Municipal de São Paulo, ao convite da regente Helba Nogueira.

1972 Monta, dessa vez sozinha, a segunda versão de O Descobrimento do Brasil, para a visita do presidente de Portugal.

1973 Remonta a ópera-balé O Galo de Ouro, de Fokine, em Montevidéu. Ê diretora convidada do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e chama o coreógrafo George Skibine para encenar Pássaro de Fogo, Les Noces e Daphnis ET Chloé. Remonta Les Sylphides.

1974 Convida o coreógrafo Oscar Araiz para assinar a temporada da casa. Ele criou: Magnificat, O Mandarim Maravilhoso, Romeu e Julieta, Cantabile. Monta novamente O Descobrimento do Brasil.

1975 Indicada por Margot Fonteyn, foi trabalhar para o Hong Kong Ballet Group, para o qual montou sua versão de O Quebra-Nozes.

1977 Passa uma temporada no Teatro Municipal de São Paulo, onde monta O Galo de Ouro.

1979 Retorna ao Theatro Municipal. Convida Yurek Lazowsky para remontar Petrouchka, de Fokine.

1988 A companhia dança a coreografia Concerto, de Rodrigo Pederneiras, com música de Serguei Prokofiev (1891-1953). Pela terceira vez na história do Teatro Municipal, O Lago dos Cisnes é encenado completo, com remontagem de Eugenia Feodorova, baseada na versão de Konstantin Sergeyev (1910-1982).

1989 Ê convidada por Rudolf Nureyev para remontar Les Présages para o Ballet de l’Opéra de Paris.

1990 Convida Pierre Lacotte para remontar La Sylphide para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Ê novamente convidada a participar do Concurso Internacional de Dança de Moscou. Remonta para o Balé do Teatro Guaíra As Bodas de Aurora (3° ato de A Bela Adormecida).

1991 Remonta trechos de Les Présages e Choreartium, no Jacob’s Pillow, em julho, nos Estados Unidos, e, em novembro, Choreartium, na íntegra, no Birmingham Royal Ballet, na Inglaterra.

1992 Remonta Les Présages para o Joffrey Ballet, em Nova York. Para a mesma companhia, remonta em 1994, em São Francisco.

1994 Para o Balé da Ópera de Nice remonta Beau Danube, e para o Balé Nacional da Holanda remonta Les Présages. A montagem de Choreartium para o Birmingham Royal Ballet ganha o The Laurence Olivier Award for the Best New Dance Production, pelo espetáculo apresentado em Londres em 1993, no Teatro Coven Garden.

1996 O Joffrey Ballet muda sua sede para Chicago e ela novamente remonta Les Présages.

1998 Última remontagem de Les Présages para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro a convite de Jean-Yves Lormeau. Cria, com o apoio do governo do Estado do Rio de Janeiro e patrocínio da Funarj, o projeto e a companhia
Bailarinos e Amigos com Tatiana Leskova, que contou com jovens talentos brasileiros. A iniciativa durou dois anos.

2001 Em homenagem aos Ballets Russes (comemoração que reuniu artistas dos Ballets Russes de Monte Carlo e Original Ballet Russe), em New Orleans, remonta a segunda cena de Petrouchka e a primeira variação de Frivolidade, do balé Les Présages. Na ocasião, participa de uma mesa-redonda. Para o Balé Nacional da Holanda remonta Choreartium, com grande sucesso de público e crítica.

2007 Remonta Les Présages para o Australian Ballet, em Melbourn.

2008 Ela se reúne com a companhia australiana para as apresentações no teatro Sadlers Wells, em Londres.

2012 Remonta o grand pas de deux de O Quebra-Nozes para a São Paulo Companhia de Dança



Bibliografia

Documentário Tatiana Leskova - Figuras da Dança | Direção Inês Bogéa e Sérgio Roizenblit | São Paulo Companhia de Dança, SP, 2009

Tatiana Leskova – Uma bailarina solta no mundo | Suzana Braga | Editora Globo, 2010




Videografia

http://www.youtube.com/watch?v=pYGI_DFeTWk
http://www.youtube.com/watch?v=SQSW2mwAQYE
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