Temporada Labirintos em Movimento
TORNAR VISÍVEL O INVISÍVEL
“O amor é a capacidade de tornar visível
o invisível e o eterno desejo de
sentir o invisível em nós próprios”.
Orhan Pamuk
Nesta temporada de três semanas no Teatro Sérgio Cardoso, a São Paulo Companhia de Dança convida vocês para uma travessia que vai do clássico ao contemporâneo, com obras que nos levam a sensíveis experiências humanas. Aqui tornamos visível o invisível, como diz Orhan Pamuk, em sua definição de amor; na dança temos a capacidade de materializar o intangível, o eterno desejo de sentir o invisível em nós mesmos.
A dança é, portanto, um diálogo sem palavras, onde cada gesto, cada salto, cada pirueta é uma frase carregada de significado. Ao assistir a um espetáculo, somos transportados para um espaço onde o tempo externo parece suspender-se, deixando-nos à deriva em um oceano de emoções que transbordam dos artistas e ecoam na plateia.
Neste contexto, os bailarinos são os poetas do corpo, os narradores de histórias que não precisam de palavras para serem contadas. Eles trazem à flor da pele as alegrias e dores da existência, em uma entrega total que transcende a individualidade e encontra ressonância na coletividade. O palco torna-se um lugar de encontro, não apenas de artistas e técnicos, mas também de cada membro da plateia que se vê refletido naquela expressão artística.
A primeira semana começa com obras emblemáticas: Le Chant du Rossignol, de Marco Goecke, e Odisseia, de Jöelle Bouvier. Goecke, inspirado pela música de Igor Stravinsky (1882-1971), nos traz um espetáculo onde a natureza, a vida, a morte e a leveza da existência são exploradas em movimentos que vibram no ar.
Bouvier, por outro lado, aborda a atual e sensível questão dos migrantes, numa viagem que promete não só questionar, mas também tocar corações com a esperança e a luta por uma vida melhor. Ela explica que procurou misturar fragmentos das Bachianas Brasileiras com a Paixão Segundo São Mateus, de Bach (1685-1750). Ao final, temos na voz de Maria Bethânia a música Melodia Sentimental e o poema Pátria Minha. A obra tem coprodução de Chaillot – Théâtre National de la Danse, na França.
Yoin, a nova obra de Jomar Mesquita encerra a noite, combinando os fluxos da dança contemporânea com a fluidez da dança de salão para explorar os intrincados padrões das relações humanas. A programação segue com Memória em Conta-Gotas, de Lili de Grammont, e Petrushka, de Goyo Monteiro, duas peças poderosas que abordam a crueza da violência cotidiana, buscando encontrar beleza e poesia mesmo nos sentimentos mais intensos e sombrios. Para Grammont, a obra “expõe vulnerabilidade e tristeza, mas acima de tudo dialoga sobre como seguir com coragem e esperança”. A coreografia foi realizada em parceria com o Centro Cultural São Paulo, com curadoria de Mark Van Loo. A noite conta também com Gnawa, de Nacho Duato, uma peça que celebra a relação do ser humano com o universo através dos quatro elementos fundamentais.
A temporada é também marcada pelo impactante O Quebra-Nozes no Mundo dos Sonhos, uma releitura de Márcia Haydée que incorpora elementos da cultura brasileira, convidando o público a uma jornada divertida pelo balé clássico, pelas danças urbanas e pela capoeira.
E para quem desejar, a temporada anual da Companhia se expande pela cidade, alcançando espaços como a Sala São Paulo e o Theatro São Pedro, onde os entusiastas poderão desfrutar da performance acompanhada por música ao vivo, intensificando a experiência sensorial. As novidades continuam com as estreias de Leilane Teles em diálogo com imagens de Candido Portinari, na sua nova obra Auto Retrato, e uma criaçãode Alex Soares, ampliando o diálogo com nosso tempo, ambas em cidades do interior do Estado.
Em tempos em que a efemeridade parece ser a única constante, a dança nos lembra do valor do agora, da importância do encontro humano e da beleza de compartilhar a experiência viva. Assim, mesmo quando as luzes se apagam e as cortinas se fecham, o que
foi tornado visível pelo espetáculo de dança continua a ecoar em nossa memória, em nosso coração, reafirmando a arte como um pilar essencial na construção e compreensão de nossa própria existência.
Junte-se a nós da São Paulo Companhia de Dança nesta temporada inesquecível, onde cada performance é uma oportunidade de vivenciar a arte de “tornar visível o invisível”.
Inês Bogéa
Diretora Artística e Executiva – São Paulo Companhia de Dança | Associação Pró-Dança