Histórico
A sistematização histórica de estilos de dança depende de uma análise temporal que leve em consideração a progressão e a passagem de um estilo ao seguinte.
Este verbete trata de um dos doze estilos propostos pela seguinte classificação histórico-analítica, que não dá conta de todas as formas de dança cênica, mas oferece um panorama da formação da dança clássica e de sua modernização:
Dança na Corte – Dança de Corte – Ballet de Corte – Escola Clássica – Escola Romântica – Escola Acadêmica – Escola Neo-Clássica – Era Diaghilev – Primeira Geração Moderna – Segunda Geração Moderna – Fase de Transição: Moderno/Pós-Moderno – Dança Pós Moderna.
Com o fim do Antigo Regime, o Opéra de Paris deixou de ser uma administração da casa do Rei, passando a ter um administrador contratado como responsável financeiro. O primeiro deles, Louis Véron, assumiu em 1831 com uma série de reformas que propunham alterar a forma aristocrática de funcionamento do teatro. Através de uma diminuição dos valores dos ingressos e de uma reforma que diminuiu os ornamentos em ouro, o diretor propunha criar um ambiente mais agradável para as classes menos ricas. “Ajudando” na compreensão do público das obras apresentadas, Véron contratou batedores de palma, que indicavam a estrutura das obras e incentivavam o gosto do público.
O novo sistema de iluminação a gás e o escurecimento da sala de espetáculos, forçava a atenção do público para o palco e para as obras – anteriormente, a plateia era completamente acesa e o balé apresentado frequentemente ficava de lado para toda a ação social, o ver e ser visto da aristocracia francesa. Véron também abriu o Foyer da Dança para os assinantes das temporadas da ópera, permitindo contato direto do público com as bailarinas.
Todo esse clima desenvolvido pelo Diretor se encaixava nas propostas do Romantismo. As obras, de caráter sombrio, passaram a ser apresentadas na penumbra. A ambientação e a luminosidade passaram a contar como novos elementos da construção dos espetáculos, que frequentemente discutiam o sobrenatural, a vida após a morte, e temas macabros.
A ópera Robert le Diable (1831) foi a primeira produção romântica da Ópera, contendo uma cena de ballet (o Ballet das Freiras) que pode ser indicada como a primeira coreografia de ballet romântica. Essa ópera, que foi um grande sucesso, estabeleceu a preferência do público pelo sombrio, mórbido, espectral e noturno.
Assim, em 1832, a estreia de La Sylphide de Filipo Taglioni encaixou nesse tema o mote romântico da paixão entre um mortal e um ser irreal, também com o reforço de todas as outras oposições do romantismo: vida e morte, claro e escuro, real e irreal, material e imaterial. Com a apresentação dessa figura feminina idealizada, mais mito que realidade, se iniciou o culto à bailarina, que passou a ser vista como uma representante dessa forma quase irreal. A abertura do Foyer da Dança só veio aumentar essa forma de adoração.
O apogeu da Escola Romântica foi o balé Giselle (1841) de Jean Coralli e Jules Perrot, que também tratava de um mito literário popularizado, e apresentava todas as discussões do romantismo, suas oposições e sua valorização extrema da mulher e da bailarina.
A Técnica da Escola Romântica foi influenciada pelos virtuosismos desenvolvidos na escola clássica, com uma forte referência à Valsa, que se popularizara na época. Na valsa, existe um contato corporal entre homem e mulher dançando que era quase indecente em sociedades anteriores e levou tempo a ser aceito. A idealização da mulher e a sua oscilação entre o carnal e o espiritual encontrou nessa movimentação uma forma de representar as pulsões, o desejo de aproximação e a necessidade de afastamento.
Na Técnica Romântica, a virtuosidade cede lugar à expressão, e o virtuoso ao estilo. Principal bailarina do período, Marie Taglioni seguia uma rotina de 6h diárias de treino com o pai, proporcionando a aparência de facilidade da execução dos movimentos. A coluna curva da bailarina foi incorporada à técnica, com a constante inclinação da bailarina romântica, que flutua e está sempre a um sopro de cair ou voar.
Nessa época se localiza também o início do trabalho de pontas, como uma forma de colocar a bailarina numa posição ainda mais distante do humano, ainda mais flutuante.
Principal autor desse período, Carlo Blasis publicou o primeiro tratado analítico de técnica de balé (1820), no qual ele sistematiza a aula e o ensino da dança, permitindo o desenvolvimento do trabalho técnico do bailarino, já prevendo certas características românticas como a leveza, que ele aponta ser indispensável ao bailarino, já que o público busca uma qualidade aérea.
A Escola Romântica definiu a Dança Clássica como é conhecida ainda hoje, como arte feminina dedicada aos assuntos do mundo dos sonhos e da imaginação. A produção de balés românticos vai ser prejudicada pela relevância do Cientificismo e da Escola Realista de arte, que, ao buscar as explicações para os fatos e a racionalidade, toma como inválidos os temas que fizeram o sucesso no romantismo.
Com a guerra franco-prussiana (1870) a Ópéra de Paris é fechada. Ao reabrir no ano seguinte, o culto à bailarina é mais forte do que nunca, e mesmo os papéis masculinos passam a ser dançados por mulheres. Com uma produção cada vez menor e menos original de balés, se inicia a decadência francesa. Diversos mestres e bailarinos passam a procurar trabalho em outros países. O principal deles, a Rússia, foi onde o balé historicamente viu sua continuidade, com a Escola Acadêmica.
Referências
Algumas sugestões de leituras e referências acerca da História da Dança e dos Estilos de Dança:
ANDERSON, Jack. Ballet and Modern Dance: a concise history
ANDERSON, Jack. Dança
AU, Susan. Ballet & modern dance.
BOUCIER, Paul. História da Dança no Ocidente
CAMINADA, Eliana. História da Dança: evolução Cultural
CAVRELL, Holly. Dando Corpo à História. (Doutorado em Artes, Unicamp)
COHEN, Selma Jean. Dance as a Theatre Art
KIRSTEIN, Lincoln. Four Centuries of Ballet
PORTINARI, Maribel. História da Dança
ROCHELLE, Henrique. Estilos de Dança: uma proposta de revisão histórica. (Material de apoio didático desenvolvido durante o Programa de Estágio Docente das disciplinas de História da Dança. Instituto de Artes, Unicamp)
SORELL, Walter. Dance in Its Time
Por Henrique Rochelle | SPCD Pesquisa
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