Histórico
“Não existia um campo de trabalho, então, resolvemos criar nosso próprio campo de trabalho”. Essas são palavras de Rodrigo Pederneiras, coreógrafo residente da companhia de dança que se firmou como uma das mais importantes no cenário nacional e internacional – o Grupo Corpo.
Fundado em 1975, em Belo Horizonte, Minas Gerais, o grupo nasceu junto de uma escola de dança, constituindo desde o início um núcleo físico, artístico e intelectual cuja pretensão era (e foi) criar uma dança brasileira. A coreografia Maria Maria, “com música original assinada por Milton Nascimento, roteiro de Fernando Brent e coreografia do argentino Oscar Araiz” – êxito que percorreu quatorze países e ficou seis anos em cartaz – foi uma espécie de leitmotiv da companhia.
As primeiras obras, sempre com “artistas importados”, aos poucos foram configurando o caráter de unidade e completude tão perseguido. A partir desse momento tudo vai ser pensado segundo a imagem de um corpo mesmo, único em sua constituição interior e em sua maneira de expressar-se. Esse movimento começa em 1978, ano do primeiro espetáculo coreografado por Rodrigo Pederneiras, Cantares, ganha sustância em 1985 com Prelúdios, baseado nos 24 prelúdios de Chopin, e se dá de forma mais definida em 1989 com Missa do Orfanato, uma coreografia “mais requintada, com uma equipe de criação própria, mais delimitada e definida” – agora com Rodrigo Pederneiras como coreógrafo residente, Paulo Pederneiras como diretor artístico, Fernando Veloso como cenógrafo e Freusa Zechmeister como figurinista, além dos ensaiadores, assistentes, técnicos de palco etc.
Faltava, então, uma “linguagem estética e artística” própria do Grupo Corpo. A peça 21, de 1992, evidencia essa autonomia criativa peculiarmente marcada pelo “movimento que parte sempre da bacia e por ela é comandado”, além de um jeito de ser e de caminhar cheio de uma sensualidade brasileira ali reinventada. “O resgate da ideia de trabalhar com trilhas especialmente compostas, que havia marcado os três primeiros espetáculos do grupo nos idos dos anos 1970, permite também que o avanço na investigação identificado com suas raízes brasileiras”, aspecto que identifica o Corpo até hoje.
Apesar de suas criações quebrarem totalmente a rigidez das linhas clássicas, a formação e a base do grupo é fundamentada no balé clássico, sem o qual torna-se impossível dançar as coreografias que são tecnicamente complexas. Partindo sempre do nome de um compositor e de uma respectiva trilha sonora, Rodrigo usa e abusa de seu arcabouço de criatividade para encontrar novos ritmos dentro dos já estabelecidos; o olhar de Fernando Veloso e Freusa Zechmeister ao mesmo tempo define a cenografia e o figurino, respectivamente; a genialidade de Paulo Pederneiras concebe as cenas de luz, limpa o espetáculo como um todo e assina a versão final. Esses nomes, no entanto, não seguem necessariamente essa ordem e essas funções, uma vez que o Corpo conforma uma equipe de criação colaborativa.
Assim nasceram e continuam nascendo peças, como Bach, 1996, música de Marco Antônio Guimarães; Parabelo, 1997, música de tom Zé e José Miguel Wisnik; O Corpo, 2000, música de Arnaldo Antunes; Lecuona, 2004, música de Ernesto Lecuona; Onqotô, 2005, música de Caetano Veloso e José Miguel Wisnik; Sem Mim, 2011, música de Carlos Núñes e José Miguel Wisnik.
O Grupo Corpo mantém o “Corpo Cidadão”, projeto fundado em 1998 que “promove oportunidades educativas e de desenvolvimento integral a crianças e jovens, por meio da arte-educação. Centenas de participantes são beneficiados com oficinas de dança, capoeira, música, percussão, artes visuais e, também, um programa de capacitação.”
Ainda com a pretensão de outrora o Corpo constrói sua futura sede em Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. Com um orçamento de R$ 16 milhões o projeto de seis mil metros de área construída prevê um complexo cultural de quatro prédios, que vai abrigar não somente “os ensaios e aulas dos bailarinos, mas também outras funções, como um café, um teatro para mil pessoas, uma galeria de arte, um auditório e salas de cinema”.
Por tudo isso, o Grupo Corpo alcançou renome internacional e continua se reinventando sempre com a premissa de que, segundo Rodrigo Pederneiras, “a intenção no balé nunca é ser descritivo, é pegar mais um sentimento, uma forma... criar volumes que deem a intenção do texto e da música, mas sem nunca descrever isso”.
Fonte: http://www.grupocorpo.com.br/
Documentário: Grupo Corpo 30 anos - Uma família brasileira. Direção: Fábio Barreto. 2006.
Trabalhos
MARIA MARIA – 1976
Música: Milton Nascimento
Coreografia: Oscar Araiz
CANTARES – 1978
Música: Marco Antônio Araújo
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
ÚLTIMO TREM – 1980
Música: Milton Nascimento
Coreografia: Oscar Araiz
PRELÚDIOS – 1985
Música: Fréderic Chopin
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
MISSA DO ORFANATO – 1989
Música: Wolfgang Amadeus Mozart
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
21 – 1992
Música: Marco Antônio Guimarães / Uakti
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
NAZARETH – 1993
Música: José Miguel Wisnik (sobre obras de Ernesto Nazareth)
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
SETE OU OITO PEÇAS PARA UM BALLET – 1994
Música: Philip Glass / Uakti
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
BACH – 1996
Música: Marco Antônio Guimarães (sobre obra de J.S. Bach)
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
PARABELO – 1997
Música: Tom Zé e José Miguel Wisnik
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
BENGUELÊ – 1998
Música: João Bosco
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
O CORPO – 2000
Música: Arnaldo Antunes
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
SANTAGUSTIN – 2002
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
LECUONA – 2004
Música: Ernesto Lecuona
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
ONQOTÔ – 2005
Música: Caetano Veloso e José Miguel Wisnik
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
BREU – 2007
Música: Lenine
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
ÍMÃ – 2009
Música: +2 | Moreno, Domenico, Kassin
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
SEM MIM – 2011
Música: Carlos Núñes e José Miguel Wisnik (sobre obra de Martín Codax)
Coreografia: Rodrigo Pederneiras