Dança em Rede

Carlton Dance Festival

  • Categoria: Festivais
  • País de origem: Brasil
  • Ano de criação: 1987
  • Direção: Monique e Sylvia Gardenberg
  • Ocorrência: selecione
  • Voltado à: amadores/profissionais

Histórico

Em 1985, a fabricante de cigarros Sousa Cruz convidou as irmãs Monique e Sylvia Gardenberg (1960-1998), então responsáveis pelo Free Jazz Festival (1985-2001), para criarem um projeto a ser atrelado à marca Carlton, novo produto da empresa. Particularmente interessada na linguagem da dança, Monique aproveitou a oportunidade para criar um evento focado em apresentar companhias internacionais dessa linguagem no país. Nascia assim, em 1987, o Carlton Dance Festival, que fez história ao favorecer a circulação de informação de dança em um período no qual vídeos e livros da área pouco circulavam no Brasil. O foco, de cara, foi apresentar grupos com pesquisas artísticas importantes, mas até então inéditos no país. Nessa primeira edição, apenas São Paulo e Belo Horizonte receberam as cinco atrações estrangeiras e as duas nacionais escaladas para o evento. Eram elas: Momix (EUA), Michael Clark (Inglaterra), Carolyn Carlson (EUA-França), Molissa Fenley (EUA), Terza Stanza (Itália) e os brasileiros do Grupo Corpo e do Ballet do Terceiro Mundo (companhia hoje extinta). Além de destacar espetáculos, o evento contou já na estreia com uma programação paralela de exibição de vídeos de nomes como Naum June Paik (1932-2006) e Chantal Akerman, além de workshops para bailarinos locais conduzidos por Molissa Fenley e Timothy Latta (do Momix). Em sua segunda edição, agora ampliada também para o Rio de Janeiro, o evento escalou novas atrações inéditas no país: Merce Cunningham Dance Company (EUA), Sankai Juki (Japão), Parsons Dance Company (EUA), Karole Armitage (EUA) e Nederlands Dans Theater 2 (Holanda), formado por jovens bailarinos do grupo então dirigido por Jiří Kylián. Dessa vez, os representantes nacionais foram o Balé do Teatro Castro Alves e o grupo Marzipan (hoje extinto). Na programação de vídeos, destaque para exibições de obras de Trisha Brown, Lucinda Childs, Susan Buirge, Katherine Saporta e Daniel Larrieu. Nos workshops, artistas brasileiros tiveram a rara oportunidade de ter aulas com Cunningham (1919-2009) e Ushio Amagatsu, do Sankai Juku. Em 1989, foi a vez dos grupos ISO Dance Theater (EUA), Ballet Théâtre Ensemble (Itália), Wim Vandekeybus (Bélgica) e Martha Graham Dance Company (EUA), além de uma seleção brasileira que incluía um então desconhecido Antonio Nóbrega e a Cisne Negro Cia. de Dança. Com a obra “What your body does not remember”, Vandekeybus protagonizou um dos momentos mais ruidosos de todas as edições do Carlton Dance Festival, com parte da plateia saindo no meio do espetáculo e vaiando. O próprio conferiu ainda workshops nas cidades participantes, assim como a Martha Graham Dance Company – inédita no país em suas mais de seis décadas de existência – e o Ballet Théâtre Ensemble. Na mostra de vídeos, o destaque foi para a apresentação de trabalhos do videodancemaker Chales Atlas, grande parceiro das experiências audiovisuais de Merce Cunningham, que veio ao Brasil para participar de uma mesa-redonda sobre sua obra. O La La La Humam Steps (Canadá) também deveria mostrar um espetáculo, mas horas antes de subir ao palco, a bailarina Louise Lecavalier se machucou e impediu a apresentação. Em 1990, o festival sofreu um corte no número de grupos convidados. Entre as atrações internacionais, figuraram Nikolais and Louis Dance (EUA), Pick Up Company, de David Gordon (EUA), Bill T. Jones/Arnie Zane & Co. (EUA) e Pina Bausch Tanztheater Wuppertal (Alemanha), que não pisava no país havia uma década. Já os brasileiros selecionados para essa edição foram a gaúcha Terpsí Teatro de Dança e a carioca Victor Navarro Cia. de Dança (hoje extinta). Após hiato de um ano, o Carlton Dance Festival voltou em 1992 trazendo os canadenses La La La Human Steps, que conseguiram enfim mostrar seu trabalho no país, ao lado de um time com Mark Morris Dance Group (EUA), The Paul Taylor Dance Company (EUA), Garth Fagan Dance (EUA) e Groupe Emile Dubois (França). A programação foi reforçada com o brasileiro EnDança, de Luís Mendonça e Márcia Duarte (hoje extinto). Ao lado do grupo de Fagan, a companhia brasileira fez ainda uma apresentação extra, gratuita, no Festival de Inverno de Campos de Jordão. Cancelado três vezes desde 1992, o festival teve sua edição de 1995 preparada às pressas. A programação incluiu o Grupo Rosas, de Anne Teresa de Keersmaeker (Bélgica), o Grupo Reality, de David Rousseve (EUA), Stephen Petronio Company (EUA), Lanonima Imperial, de Bebeto Cidra (Espanha), Batsheva Dance Company, de Ohad Naharin (Israel) e a carioca Cia. Marcia Rubin. Em 1996, foi a vez de Les Ballets C de La B, de Alain Platel (Bélgica), Wim Vandekeybus (Bélgica), Ghettoriginal Dance Company (EUA), Ballet Scappino Rotterdam (Holanda), Cia. Vicente Saez (Espanha). A fatia nacional da programação foi composta pelos baianos do Dança Olodum!, de Marcio Meirelles, e os goianos da Quasar Cia. de Dança, que ganhariam projeção nacional a partir da apresentação no festival. A edição de 1997 chegou a ser anunciada para agosto daquele ano com retorno de Pina Bausch (1940-2009). A companhia da coreógrafa alemã realmente se apresentou no Rio naquele ano, mas fora do projeto, que acabou cancelado de vez. Bibliografia: PAVLOVA, Adriana. O Mundo Diante de nós: Produtores que Trouxeram a Dança Internacional ao Brasil (p. 211-227) in NORA, Sigrid (org.) Temas para a Dança Brasileira. São Paulo: Edições Sesc, 2010.

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(por Amanda Queirós | Pesquisa SPCD) 56

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Atualizado (MAIO 2020)