Dança em Rede

Eros Volúsia

  • Categoria: Profissionais da dança
  • País de origem: Brasil
  • UF de origem: RJ
  • Cidade de origem: Rio de Janeiro
  • Atividade: Bailarina
  • Data de nascimento: 06/01/1914
  • Data de falecimento: 01/01/2004

Histórico

Heros Volúsia Machado nasceu em 1 de junho de 1914 no Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro de São Cristovão. O nome bastante raro, talvez, uma visão do que seria sua personalidade artística, é explicado por ela mesma: Eros Volúsia é meu verdadeiro nome. Sendo filha de dois poetas, era natural que eles imaginassem que eu me tornaria uma artista algum dia, procuraram assim me livrar do nome de família que seria muito material para qualquer ramo da arte. Eu sou Heros Volúsia Machado só para a parte burocrática da vida. Quando ingressei na carreira artística, resolvi escrever meu nome sem o H, achava mais bonito, por isso só coloco o H oficialmente, sem o H o nome é grego. Como vocês sabem Eros é o deus Amor na mitologia grega. E Heros com H significa em inglês “Garça morena”. Volúsia é o nome de uma pequena cidade que existe na Flórida, Estados Unidos, e que exporta mel para o mundo. Os franceses costumavam chamar-me com muita graça de l’amour sucré. Em 1928 sua mãe a matriculou na Escola de Bailados, onde foi aluna de Maria Olenewa (bailarina russa que integrou a companhia de dança de Anna Pavlova e naturalizou-se brasileira, tendo sido a responsável pela organização da escola de dança e do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro) e iniciou, com apenas quatro anos, a sua formação clássica em balé. Mas como a própria Eros contaria mais tarde em seu livro (1983) foi na macumba de João da Luz, em frente á sua casa, onde ela também aos quatro anos iniciou seus primeiros passos de dança, aspecto que a marcaria para toda a vida. Sua estreia como bailarina se daria quatro anos mais tarde quando, numa atitude inusitada, dançou descalça no palco do Teatro Municipal. Desde esse momento inicial, suas mestras lhe direcionavam elogios entusiasmados pela técnica e perfeição clássica, no entanto, Volúsia estava mais interessada pelo ritmo étnico de sua raça. Seria absurdo cultivar uma arte de expressão internacional, quando toda uma raça esperava de meu corpo a realização de sua alma. Minha tendência pelos ritmos brasileiros manifestou-se logo que iniciei meus primeiros passos de dança. Eros Volúsia não era, decididamente, uma artista comum. Seu talento para a dança ia muito além da técnica clássica e ela fez de seu corpo um instrumento catalisador das inovações tão necessárias ao bailado brasileiro. Buscou na raiz do intenso processo de miscigenação, fruto de fatores sócio-histórico-culturais, os elementos essenciais para a construção de uma dança, cuja singularidade de movimentos refletia não somente a diversidade de culturas, mas, sobretudo, a busca de uma identidade própria para a dança brasileira, influência do nacionalismo então em voga. Nas palavras de Mário de Andrade: Eros Volúsia está agora no dever de criar escola, para que a chama, o destino que ela traz consigo transborde de sua própria vida, formando uma tradição que nos será fecunda. Historicamente, as primeiras décadas do século XX no Brasil foram períodos de construção de uma identidade e de valorização da mestiçagem. Eros Volúsia vivenciou toda esta profusão de ideias de vanguarda que fluía no período: Semana de Artes Moderna, Gilberto Freire com o trabalho Casa Grande & Senzala, Getúlio Vargas e a política desenvolvimentista. E foi nesse contexto de nacionalismo crescente, de turbulência e novas propostas de interpretação do Brasil que Eros criou uma nova estética, incorporando novas metodologias na dança, teve a inteligência e sensibilidade de mesclar as danças populares nacionais à técnica clássica. A singularidade de seus movimentos criou identidade própria para sua dança, expressando a diversidade cultural que pulsava e que percebia suas raízes no híbrido, na miscigenação. Sua primeira aparição em público foi em uma homenagem ao então presidente Washington Luiz, no Theatro Municipal, um ano após iniciar seus estudos de balé, no dia 28 de setembro de 1929. Dançou, descalça, um samba acompanhada por violão e batucadas. Em 1938, no dia 13 de maio, voltou aos palcos do Theatro Municipal para participar de um espetáculo comemorativo: Cinquentenário da Abolição, promovido pelo Ministério da Educação e Saúde. Nesse mesmo ano foi nomeada pelo ministro Gustavo Capanema, diretora do Curso de Ballet do Serviço Nacional de Teatro, dirigido por quase 27 anos pela bailarina. Sua carreira ascendeu com a celeridade que suas virtudes artísticas bem mereciam. Seu espírito criativo e as influências intelectuais que assimilou desde a infância, lhe constituíram em uma mulher além de seu tempo, uma personalidade excepcional. A singularidade artística em que consistia sua dança acabou por trazer-lhe imenso sucesso. Na edição de 22 de setembro de 1941, a revista Life publicou sua foto na capa, foi o quanto bastou para que se tornasse ainda mais famosa e requisitada. Atuou em vários filmes nacionais: Favela dos Meus Amores (1935), Samba da Vida (1937), Caminho do Céu (1943), Romance Proibido (1944) e Pra Lá de Boa (1949). Mas sua fama internacional veio através de sua participação no filme Rio Rita (1942), uma comédia da Metro-Goldwyn-Mayer, dirigida por S. Sylvan Simon. Nessa película, apresenta-se uma cena que se tornou célebre, na qual utiliza temas afro-brasileiros em um número musical. Sofreu um derrame cerebral na manhã do dia 31 de dezembro de 2004 em sua casa, no Leblon, e veio a falecer no dia 01 de janeiro de 2004, aos 89 anos. Sua existência sintetizou toda uma missão artística e proporcionou um rito de passagem a dança do e no Brasil. Passar do aparente imaterialismo dos bailados clássicos para às humaníssimas danças, sangrantes ainda das tragédias do cativeiro e do exílio, quentes ainda do contato com a terra, é sem duvida, chocante à sensibilidade de qualquer público, principalmente quando este se encontra turbado por preconceitos de origem que se deseja ocultar para esquecer, quando este age sugestionado pelo “nacionalismo cosmopolita”, quando este se encontra viciado à comodidade de assistir ou reproduzir as velharias importadas. Fonte: Wikipédia e A formação do Balé Brasileiro de Roberto Pereira.

Trabalhos

A morte dos cisnes (1931)

Lenda do brejo (1931)

Agonia da saudade (1931)

Iracema

Sertaneja

Yara

Peneirando o fubá

Banzo

Cascavelando

Cateretê

Carnaval da Praça Onze

No terreiro de umbanda

Eh! Ua calunga (1938)

Minas de prata (1940)

Recordação do Congo, Taieras e Fandango

Bibliografia

PEREIRA, Roberto. Eros Volúsia – A criadora do Bailado Nacional. Coleção Perfis do Rio. Rio de Janeiro: Editora Relume Dumará , 2004.

PEREIRA, Roberto. A formação do Balé Brasileiro. São Paulo: FGV Editora, 2003.

SILVA, Soraia Maria. Poemadançando: Gilka Machado e Eros Volusia. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2007.

VOLÚSIA, Eros. Eu e a Dança – Revista Continente Editorial, 1983.

Verbete editado por:

Atualizado (MAIO 2020)
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