Dança em Rede

Flamenco

  • Categoria: Estilos de danças
  • País de origem: Espanha

Histórico

Há quem diga que o baile flamenco é uma criatura com braços e mãos de espanhola, pés de cigana e quadris de africanas. Ainda que não haja consenso sobre a origem de cada movimento da dança flamenca, a figura dá uma boa ideia da complexidade do flamenco. A dança surgiu junto com o canto flamenco e assim como esse, não há registro de quem tenha sido o primeiro executor ou executora, mas desde os pioneiros intérpretes esta arte é individualista, nascida da necessidade de exteriorizar os sentimentos mais profundos. O flamenco como dança é uma manifestação abstrata, não contém elementos narrativos exteriores a própria dança. E, apesar de parecer espontânea, possui uma técnica complexa, que requer dedicação para ser assimilada. Até mesmo Carmen Amaya, famosa por representar a anti-escola e a pura improvisação, dedicava-se a muitas horas de ensaio, segundo contam seus contemporâneos. Origens O flamenco nasceu na Andaluzia, contudo definir seu local de nascimento não simplifica suas raízes culturais. Desde o começo do século VII viveram no sul da Espanha, além dos espanhóis, árabes, muçulmanos e judeus e todos compartilharam o espaço geográfico que então se chamava Al-Andalus. Quando a região foi reconquistada por reis católicos, partir do século XV, os outros povos foram expulsos dali e começaram a aparecer povos da etnia dos gitanos que também foram duramente perseguidos pelos reis. Cada um deles ofereceu sua contribuição ao sedimento musical e cultural que hoje conhecemos como flamenco. Mesmo sendo evidente a diferença entre a tradição musical de cada um, pode se identificar no flamenco os matizes que o originaram. As influências mais destacadas são: Andaluzes: Ricardo Molina definiu a Andaluzia como um país do mundo Mediterrâneo. Um país porque é a segunda maior comunidade autônoma espanhola, que possuí características sociais, culturais e econômicas muito diferentes do resto do país. Toda sua história geológica e humana participou das formas culturais dominantes nos países ribeirinhos do Mediterrâneo. As regiões onde surgiu o cante flamenco eram predominantemente agrícolas, mas estavam ao mesmo tempo cercadas por um comércio intenso com as cidades de Cádiz e Sevilha. Ciganos: Os primeiros registros da chegada dos ciganos à Espanha datam de 1425. Eles teriam vindo do Egito Menor depois de um longo peregrinar. Acredita-se que tenham vindo da região do Punjab, na Índia. Já em 1492 foram criadas leis na Espanha que revelam a perseguição dos espanhóis sobre este povo. Desde então eles buscam se isolar e passam a viver em pequenos povoados de Andaluzia. De acordo com Mario Penna, quando chegaram na Espanha não possuiam um patrimônio musical, mas uma extraordinária capacidade de interpretação e se apropriaram muito rapidamente dos cantos folclóricos que encontraram e os transformaram quase que imediatamente. Judeus: Sefarad foi o nome dado pelos judeus à Espanha e hoje os sefardies são aqueles judeus expulsos em 1492 por não aceitarem o cristianismo, mas que reconhecem sua origem espanhola. Existem estudos que apontam que a música judaica se incorporou com as formas flamencas. Carlos Arbelos afirma que uma das melodias usadas para celebrar o Yom Kipur é, em algumas versões, praticamente igual ao lamento de um estilo de canto flamenco denominado siguiriyas. Muçulmanos: Quando expulsos da Espanha, muitos resolveram abandonar suas crenças e costumes para permanecer no país. Porém, não é possível acabar com uma cultura por decreto, por isso muitos elementos musicais sobreviveram à derrota militar muçulmana. A música árabe tem sua base melódica em melodias persas, como aparece no flamenco: variações orientais no uso dos tons. Por isso quando escutamos cantes básicos pela primeira vez nosso ouvidos estranham, pois não estão acostumados. Etapa Primitiva (1760 – 1840) Nesta época a forma musical flamenco começou a se delinear dentro dos núcleos familiares e algumas tabernas. Essas tabernas eram chamadas de Bailes de Candil. Os artistas alternavam seus ofícios de cigarreiros, ferreiros e e outros trabalhos artesanais com o canto e a dança. Ninguém recebia para se apresentar. Conta-se que um cantaor chegou a recusar o cache oferecido por um general, porque para o artista o flamenco era algo sagrado, que não podia ser vendido. O flamencólogo Luiz López Ruiz considera esse período parte da Pré-história do flamenco, já que não existem registros visuais ou sonoros da arte e o conhecimento que se tem foi documentada através de relatos de estrangeiros em passagem pela Espanha. Idade de Ouro (1840 – 18920) A Êpoca de Ouro do flamenco também é conhecida como o período dos Cafés Cantantes. Os Cafés eram locais onde se ofereciam espetáculos de todo tipo, especialmente flamenco. O primeiro deles surgiu em Sevilha na década de 1840, eram locais amplos e fechados com palco para cante e baile, mesas grandes e alguns locais fechados para festas privadas. Com a reunião de muitos artistas flamencos em espaços fechados todos os elementos da arte flamenca evoluiu artisticamente. Os cantores foram obrigados a aprender a construir um recital, as bailarinas se acostumaram a medir-se umas com as outras. O violão acrescentou ao seu estilo a obrigação melódica e harmônica para acompanhar o canto e rítmica para acompanhar o baile. Em 1901 a aparição do disco no mundo flamenco permitiu que se iniciasse uma documentação mais fiel da arte flamenca. Para Luiz López Ruiz, este fato determina o fim da pré-história do flamenco. Ópera Flamenca (1920 – 1950) Neste período o flamenco sai das tabernas e cafés cantantes para conquistar os teatros. Em geral este período é considerado decadente para o flamenco, pois foi quando ocorreu uma massificação que prejudicou a qualidade da arte. Os puristas denominam o fenômeno de operismo flamenco, referindo-se a degradação. Apesar de ter persistido uma visão geral negativa sobre o flamenco neste período, também ocorreram fatos isolados muito importantes para a história desta arte. Na década de 20 por exemplo, o bailaor Vicente Escudero, amigo de Pablo Picasso, decide montar um espetáculo orientado para o teatro, o que transforma o estilo do baile flamenco acrescentando movimentos inspirados no cubismo e em 1929, a bailarina Antonia Mercé (La Argentina), importante visionária da dança espanhola, funda a companhia Les Ballets Espagnols com a qual apresenta nos principais teatros do mundo seus espetáculos vanguardistas que mesclam pela primeira vez elementos da dança clássica ao flamenco popular. Revalorização (1954 – 1989) Os puristas consideram que o retorno da dignificação do flamenco começou em 1954 com a gravação da Antologia de flamenco da gravadora Hispavox. Após esta, houve um sem número de antologias gravadas. Entre os intelectuais a gravação das antologias facilitou as pesquisas e logo em seguida foi criada a Cátedra de Flamencologia e Estudos Folclóricos Andaluzes na cidade de Jerez de la Frontera, província de Cádiz. Entre 56 e 64 foram celebrados diversos concursos de cante, baile e violão flamencos, tendo sido o Concurso Nacional de Cante Flamenco de Córdoba, o primeiro deles. No ano de 86, apenas durante os dois meses e meio de verão, foram celebrados mais de 200 festivais de flamenco em Andaluzia. Fusões (a partir de 1990) Desde seu surgimento o flamenco é formado por um amálgama de várias culturas, não é de se estranhar portanto que ao longo de sua trajetória continue incorporando elementos artísticos de origens diversas. O violão flamenco tem destaque por ter se sobressaído nos avanços musicais permitido que um público cada vez maior seja atraído pelo flamenco. Ê nessa época que composições fusionadas com o jazz e a bossa nova começam a sair do violão de Paco de Lucía. O baile também inicia uma incorporação de movimentos da dança contemporânea por meio de bailarinos como Belén Maya, Rafaela Carrasco, Andrés Marin e Israel Galván.

Referências

http://flamencobrasil.com.br/museuvirtual

ARBELOS, Carlos. Flamenco Contado com Sencillez. Madri : Maeva Ediciones, 2003. 186p.

CORAL, Matilde; CABALLERO, Ángel Álvarez; VALDÊS, Juan. Tratado de la bata de Cola; Matilde Coral Una vida de arte y magisterio. Madri : Alianza Editorial, 2003. 293p.

LORETO, Manuel Naranjo. Percusión y Jaleos. In: Género Flamenco; Técnicas y Aprendizaje. 119-143p.

MARÍN, Calixto Sánchez. El Cante. In: Género Flamenco; Técnicas y Aprendizaje. 33-49p.

MEDEROS, Alicia. El Flamenco. 4. ed. Madri: Acento Editorial, 2002. 91p.

MOLINA, Ricardo. Cante Flamenco. 3a Edição. Madri: Taurus Ediciones. 1981. 166 p.

MOLINA, Ricardo. Misterios del Arte Flamenco; Ensaio de uma interpretación antropológica. Sevilha : Editoriales Andaluzas Unidas S. A.. 1986. 188 p. (Biblioteca de Cultura Andaluza nº 48).

NAVARRO, José Luis Navarro y Eulalia Pablo Lozano. El Baile Flamenco. Madri: Alianza Editorial. 2006. 216 p.

PEÑA, Teresa Martinez de la. Teoría y Práctica del Baile Flamenco. Madri : Aguilar, 1969. 144p.

RUIZ, Luis López. Guía del Flamenco. Madri: Ediciones Istmo, 1999. 199p. (Colección Fundamentos nº 138)

Por Luiza Libardi | Pesquisa SPCD 9

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Atualizado (MAIO 2020)