Dança em Rede
Passanoite
- Categoria: Coreografias
- País de origem: Brasil
- Cidade de origem: São Paulo
- Ano de criação: 2009
- Duração: 20
- Grupos de estreia: São Paulo Companhia de Dança
- Autores: Daniela Cardim
Histórico
Sinopse
A obra que Daniela Cardim coreografou especialmente para a São Paulo Companhia de Dança, Passanoite, traz a marca dessa jovem artista, que tem se revelado como coreógrafa no exterior – em especial na Holanda, onde atua como bailarina do Het Nationale Ballet há uma década – e agora também no Brasil.
Fiel à tradição que tem em George Balanchine uma de suas maiores referências históricas, esta peça coreográfica não narra um enredo mas se baseia inteiramente nas músicas sobre as quais foi criada. A evidente musicalidade da obra não se limita às figuras rítmicas e às camadas melódicas das peças interpretadas pelo grupo Quintal Brasileiro: Passanoite procura fazer em movimentos corporais o que a música faz com a tradição – assim como o rigor erudito revela sutis arrojos na construção musical, a coreografia de Cardim revela um delicado uso da técnica clássica sob o olhar contemporâneo.
Baseada em puro movimento, a obra estabelece na compreensão física da música a dramaturgia da cena: os duos, trios, quartetos e grupos foram elaborados para dialogar com a obra musical de maneira ao mesmo tempo rigorosa e aberta a interpretações. As vozes musicais têm seu correspondente em movimento, assim como as passagens de sonoridade mais rarefeita geram uma dança de eloquência mais sutil e atmosfera mais introspectiva. Cardim cria suas coreografias sob inspiração sonora, os movimentos ocupam a cena de maneira a um só tempo leve e intensa, com pronunciada plasticidade. Os vazios e os preenchimentos da cena no espaço nu da caixa cênica constituem outro elemento marcante nesta peça, em que grande parte do repertório de movimentos e posições é originário da técnica clássica, mas sua semântica é reescrita nos detalhes gestuais, nos impulsos e usos do solo que, juntamente com os deslocamentos no foco da cena, atualizam a tradição.
Daniela Cardim extraiu o título da obra do nome dado por André Mehmari a um movimento de uma de suas composições. Para a coreógrafa, a palavra remete a um momento de recolhimento, de entrada em um estado diferente da agitação diurna. Pode estar relacionado a um estado onírico, mas também a um estado meditativo, como que submerso noutra realidade. Passanoite se relaciona com isso: os corpos se inscrevem no espaço como palavras de um poema, que fala de questões que estão no tempo e fora dele. A iluminação complementa a obra criando espaços que multiplicam o sentido das proposições coreográficas e concorre para ressaltar, em alguns momentos com grande veemência, a atmosfera contemplativa que Cardim extrai das escolhas musicais.
À maneira de seu mestre moderno Balanchine, Daniela Cardim cria com plasticidade, mas sem encerrar as possibilidades de interpretação. De outro gênio admirado, o coreógrafo holandês Hans van Manen, Daniela admira a musicalidade, a simplicidade e a elegância.